Wednesday, October 02, 2002

UM COMENTÁRIO SOBRE "THE FORTUNATE PILGRIM"

Terminei hoje de ler “The Fortunate Pilgrim” de Mario Puzo (O Poderoso Chefão), uma história bela e triste, e talvez o melhor livro que eu já tenha lido.

Certos trechos me deixaram incrivelmente deprimida, mas isso se deve ao fato de a hisória ter me arrastado para dentro dela de tal forma que eu me envolvi com a vida dos personagens como se eles fossem pessoas reais, meus conhecidos. Eu dormia e acordava pensando neles. Sofri, chorei e alegrei-me com eles. Amei-os e odiei-os.

A história atrai justamente porque analisa a vida. Eu gosto de pensar e escrever a vida, de interpretar o que está por detrás de cada palavra, cada gesto, cada olhar. Pois, como na vida real, cada um desses pequenos atos nunca está sozinho no mundo, nunca provém do nada, mas é fruto de toda uma história de vida, carrega todo um significado que resume quem você é, como você vê o mundo e o que esse mundo fez de você.

Assim, o livro de Puzo interpreta a beleza e a dor da vida, sua complexidade em seus melhores e piores momentos, mas acima de tudo em seus pequenos momentos: o dia-a-dia, o crescer, o amadurecer, o envelhecer, enfim, o viver. Mostra que nada é tão simples, fácil ou vazio, que cada pessoa é única e cheia de nuances. Se não conseguimos ver isso na vida real, o livro, como uma lente de aumento, nos faz ver que pessoas são seres históricos que amam, sofrem e lutam simplesmente para seguir em frente.

A história fala de uma família italiana que, no início do século XX, tenta a sorte na "América, terra da liberdade", mas ali só encontra decepções e desenganos.
Não é uma história verídica, mas é verdadeira ao falar da realidade comum a tantos imigrantes italianos da época. Então, antes de chegar ao livro, tenhamos uma breve noção de história: A Itália do início do século XX era um país divido, o norte passara por uma revolução industrial e desenvolvera-se, enquanto o sul continuou agrário e pobre, numa sociedade patriarcal, onde o homem mandava e a mulher não tinha voz, e o casamento era decidido pelo pai da moça.
A população do sul, analfabeta e faminta, tem dois destinos: ou torna-se mão de obra no norte, ou foge da miséria cruzando o atlântico atrás do sonho americano (EUA ou Brasil). O sonho dessas pessoas era simplesmente sobreviver, ter o que comer para si e para seus filhos, garantir a continuidade da família.

E é aqui que encontramos Lucia Santa, uma jovem mãe, viúva, analfabeta e só, numa terra estranha, tendo que falar uma língua estranha, e criar seis filhos em uma cultura que ela não entende e que lhe oferece estranhos sonhos de felicidade que sua filha Octavia pensa poder alcançar. Como crer na felicidade? E por que o nome do livro é “O Peregrino Afortunado”? Só lendo o livro e tentando entender.

Ah, o autor diz que inicialmente a história era sobre ele. Passei o livro tentando descobrí-lo,e creio ter tido êxito já no fim da história. Será que você descobre antes de mim?

Há muito mais o que ser dito, mas se eu começar a contar tudo, estrago a história.

Léa Virginia, 21 de setembro de 2002







A versão abaixo é a original, contém mais informações; é para quem não tem interesse de ler o livro, ou quer ler já sabendo o que vai acontecer:





UM COMENTÁRIO SOBRE "THE FORTUNATE PILGRIM"


Terminei hoje de ler “The Fortunate Pilgrim” de Mario Puzo (O Poderoso Chefão), uma história bela e triste, e talvez o melhor livro que eu já tenha lido.
Certos trechos me deixaram incrivelmente deprimida, mas isso se deve ao fato de a hisória ter me arrastado para dentro dela de tal forma que eu me envolvi com a vida dos personagens como se eles fossem pessoas reais, meus conhecidos. Eu dormia e acordava pensando neles. Sofri, chorei e alegrei-me com eles. Amei-os e odiei-os.
A história atrai justamente porque analisa a vida. Eu gosto de pensar e escrever a vida, de interpretar o que está por detrás de cada palavra, cada gesto, cada olhar. Pois, como na vida real, cada um desses pequenos atos nunca está sozinho no mundo, nunca provém do nada, mas é fruto de toda uma história de vida, carrega todo um significado que resume quem você é, como você vê o mundo e o que esse mundo fez de você.
Assim, o livro de Puzo interpreta a beleza e a dor da vida, sua complexidade em seus melhores e piores momentos, mas acima de tudo em seus pequenos momentos: o dia-a-dia, o crescer, o amadurecer, o envelhecer, enfim, o viver. Mostra que nada é tão simples, fácil ou vazio, que cada pessoa é única e cheia de nuances. Se não conseguimos ver isso na vida real, o livro, como uma lente de aumento, nos faz ver que pessoas são seres históricos que amam, sofrem e lutam simplesmente para seguir em frente.
A história fala de uma família italiana que, no início do século XX, tenta a sorte na "América, terra da liberdade", mas ali só encontra decepções e desenganos.
Não é uma história verídica, mas é verdadeira ao falar da realidade comum a tantos imigrantes italianos da época. Então, antes de chegar ao livro, tenhamos uma breve noção de história: A Itália do início do século XX era um país divido, o norte passara por uma revolução industrial e desenvolvera-se, enquanto o sul continuou agrário e pobre, numa sociedade patriarcal, onde o homem mandava e a mulher não tinha voz, e o casamento era decidido pelo pai da moça.
A população do sul, analfabeta e faminta, tem dois destinos: ou torna-se mão de obra no norte, ou foge da miséria cruzando o atlântico atrás do sonho americano (EUA ou Brasil). O sonho dessas pessoas era simplesmente sobreviver, ter o que comer para si e para seus filhos, garantir a continuidade da família.
Daqui sai Lucia Santa. Seu pai, muito pobre, arranja-lhe um marido, mas alega não poder dar o dote. Que grande desonra para uma jovem! Lucia parte com seu marido para a América. Ele dá-lhe 3 filhos e morre. Lucia casa-se novamente e ganha mais 3 filhos.
E aqui encontramos Lucia Santa, uma jovem mãe, viúva, analfabeta e só, numa terra estranha, tendo que falar uma língua estranha, e criar seis filhos em uma cultura que ela não entende e que lhe oferece estranhos sonhos de felicidade que sua filha Octavia pensa poder alcançar. Como crer na felicidade?
Octavia não entende o conformismo da mãe. Nós também não entendemos Lucia e temos pena de tanto sofrimento. Veio à América em busca de uma vida melhor e só encontra desgraças.

“Eu quero ser feliz!” Octavia protesta. Ao que sua mãe responde “Garota tola! O que você sabe da vida? ‘Quero ser feliz.’ Graças a Deus você está viva.” O dilema interno de Octavia é querer ser uma boa filha italiana, viver em um lar italiano, mas, nascida e criada na América, nutrir em seu coração sonhos que o seu país lhe ensinou possíveis para ela e sua família. Como harmonizar dentro de si essas duas nacionalidades, americana e italiana, com perspectivas de vida tão diferentes? Uma crê em finais felizes, outra crê somente na vida.

Para melhor entender Lucia imagine que um dia teu filho olhe para você e diga-lhe o quanto ele te odeia por não deixar-lhe voar, o quanto ele despreza o teu conformismo em usar os pés para mover-se. Ele quer criar asas, não um aparato qualquer, mas asas de verdade, e crê que pode realmente voar. “Enlouqueceu,” você irá pensar; e se ele persistir na loucura, talvez pense em castiga-lo por tal blasfêmia. “Dê graças a Deus por ter pés saudáveis, menino!” Você diria. Pois bem, para Lucia Santa “Felicidade é um conto de fadas que toda mulher deve perder.” Lucia Santa simplesmente não crê na felicidade que a América diz-lhe ser possível.
E por que o nome do livro é “O Peregrino Afortunado”? Só lendo o livro e tentando entender.
Ah, o autor diz que inicialmente a história era sobre ele. Passei o livro tentando descobrí-lo,e creio ter tido êxito já no fim da história. Será que você descobre antes de mim?
Há muito mais o que ser dito, mas se eu começar a contar tudo, estrago a história.
Léa Virginia, 21 de setembro de 2002